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sábado, 8 de março de 2014

O Novo Design


  “É a lei das coisas orgânicas e inorgânicas, de todas as coisas físicas e metafísicas, das coisas humanas e sobre humanas, de todas as verdadeiras manifestações da mente, do coração e da alma, que a vida é reconhecida na sua expressão, que a forma sempre segue à função, é uma lei. “Todas as coisas na natureza têm uma configuração, isto é, uma forma, uma aparência externa que nos diz o que as coisas são, que as distinguem umas das outras” (Louis Sullivan, 1896).
  A idéia de Sullivan de que a forma segue à função foi mal interpretada pelos arquitetos e designers modernos do século XX como Adolf Loos autor de “Ornamento e Crime”(1908) onde argumenta em favor da “honestidade da forma”, isto é contra o ornamento exterior, estranho á forma. O que Sullivan queria dizer é que entre a vida e a forma existe uma correspondência harmoniosa, a forma também nos diz o que os objetos são e o que significam, a forma comunicatem um significado, não é só funcional.
 Os primeiros sinais da crise do Funcionalismo aparecem em 1960, o boom econômico pós guerra estava chegando ao seu fim como o boom do Funcionalismo na escola de Ulm e o movimento Die Gute Form. A Guerra de Vietnam deu passo aos movimentos estudantis nos Estados Unidos, em “maio de 68” na França, na ‘primavera de Praga” na Checoslováquia e as revoltas em Berlim e Frankfurt e também no Brasil e na América Latina. Todos estes movimentos tinham seus fundamentos nas teorias desenvolvidas na Escola de Frankfurt, entre elas a de Theodor Adorno que em 1965 inicia sua critica ao funcionalismo na reconstrução da Europa com a dissertação “Funcionalismo Hoje”.

  Os funcionalistas não reconheceram que as necessidades do dia a dia da população eram complexas porque estavam configuradas pelos modelos estéticos tradicionais e isto ficou evidente com as mudanças dos anos 60. Os valores da modernidade começam a ser questionados e com eles os valores do design moderno.
                                                   


  Todas as mudanças sociais (revolução feminina, revolução racial 'Black Power', movimento pacífico 'Flower Power', corrida espacial, Guerra Fria) culturais (consumo massivo,contra-cultura) e filosóficos (Escola de Frankfurt) tiveram forte influência sobre o design, mas a maior delas foi a arte. A Arte Pop e a Optical Art rejeitavam o racionalismo da abstração geométrica por uma arte que procurava a expansão da consciência e a saturação dos sentidos, recuperando as linhas curvas do Art Nouveau, o simbolismo e colocaram a atenção na diversidade antes que na unidade, a saturação antes que a "limpeza", o ornamento floral antes que a pureza das formas, as tipografias irregulares entes que uma legibilidade clara do texto. Tudo aquilo que foi sustentado pelo funcionalismo foi desafiado em uma ola de psicodelismo que por sua vez se tronou em objeto de consumo massivo.



Martin Sharp Crean - Disraeli Gears 1967 - Ed Thrasher, The Jimmy Hendrix Experience- Are you Experience 1967








Peter Blake e Jann Haworth - The Beatles - Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967)
 

Stanley Kubric, cenas de “2001, Odisséia no espaço’, 1968
    
 No Brasil o designer Aloisio Magalhães e Alexandre Wollner marcavam as tendências nacionais através da Escola Superior de Desenho Industrial ESDI no Rio de Janeiro, onde lecionaram. Wollner, defendia um design na linha dos valores funcionalistas que tinha se tornado um estilo internacional ligado ás tendências abstratas da Arte Concreta dos anos 50 e Magalhães defendia a recuperação da tradição estética e cultural brasileira com o conceito de "Brasilidade". Esta dupla tendência é evidente nos trabalhos dos designers gráficos brasileiros mais destacados destas décadas como Rogério Duarte que desenhou os discos da Tropicália e Carlos Prósperi. Nos trabalhos de Oswaldo Vanni, Danilo di Preti e Dercio Bassani para as bienais de arte de São Paulo dos anos 60 é possível encontrar a influenza do movimento Neoconcreto da arte brasileira que nega a racionalidade da abstração geométrica com "falhas", "ruído" visual, linhas curvas e superposições que se antecipam ao que apareceria nos anos 80 com o movimento Punk no design.



Alexandre Wollner

Aloisio Magalhães
Oswaldo Vanni, Danilo di Preti e Dercio Bassani
  Em 1968, o ano das revoltas estudantis em Paris, Praga, Berlim, Checoslováquia e Frankfurt, o arquiteto Werner Nehls critica o funcionalismo como fez Adorno em 1965, por ser uma ótica plana e masculina. Agora, ele disse, o Design deve ser orgânico, colorido, emotivo, irracional e feminino.
  A partir de todo este impulso na década de 1970 os designers iniciaram um movimento que foi conhecido como New Design ou Anti-Design que propunha usar métodos artísticos, não mais dirigidos por projetos racionais, desfazendo os limites entre arte e design. As cadeiras de Stephan Wewerka são um emblema desta mudança anti-funcionalista. Sob o lema de "a forma segue a diversão" (form follows fun) e "menos é aborrecido" (less is bore) defendiam um design com maior função simbólica, com maior carga de humor e ironia, uso de elementos "kitch" (gosto popular e ordinário) e maior sensualidade. Flores, curvas, cores e saturação de formas; uso de materiais reciclados assim como tipografias psicodélicas e objetos não funcionais foram ganhando cada vez mais aceitação entre os jovens designers que faziam exatamente aquilo que era considerado errado no "Bom Design" funcionalista.
  Na Itália inauguraram galerias dedicadas ao New Design onde os designers realizavam exposições como artistas. Grupos de designers e arquitetos propunham novos ambientes para a vida. O grupo Superstudio elaborava planos para uma arquitetura interplanetária, o Studio Alchimia e Studio Archizoom propunham ambientes que fossem pensados como os 'teatros da vida" onde os objetos deviam ter a identidade pessoal dos seus "atores. A forma de um objeto não poderia ser o mesmo para todas as pessoas, o design devia oferecer variedade formal para a diversidade cultural dos grupos humanos, como as propostas de Verner Panton dos módulos para construir "paisagens fantásticas" como "Visiona II".
Memphis, chaleiras Rara Avis,
  O mais famoso deles foi o Grupo Memphis que teve grande influencia sobre o design dos anos 80 caracterizado pela linha alegre e arrojada de formas angulares e cores contrastantes. Um dos fundadores do grupo Memphis foi Ettore Sottsass conhecido pela arquitetura, móveis, objetos e padrões têxteis com figuras de bactérias (a forma em que se multiplicam) e cores nunca antes usados na arquitetura ou o design.
Ettore Sottssas do grupo Memphis
  O movimento Punk, que é um movimento inglês de caráter agressivo, influi no design de moda, design gráfico e na cultura dos anos 80. Vivienne Westwood, a maior designer inglesa, participou e ajudou a difundir este movimento. Designers gráficos como Terry Jones que desenhava para a revista i-D e que se tornou conhecido com o design dos discos do grupo Sex Pistols e designer de móveis como Ron Arad seguiam esta tendência.



Terry Jones, cartaz e capa de disco para Sex Pistols
Ron Arad, armario e sofá

Fonte:
BURDEK, Bernhard E. Diseño: Historia, teoría y práctica del diseño industrial. Barcelona: Gustavo Gili, 1994.

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