“É a
lei das coisas orgânicas e inorgânicas, de todas as coisas físicas e
metafísicas, das coisas humanas e sobre humanas, de todas as verdadeiras
manifestações da mente, do coração e da alma, que a vida é reconhecida na sua
expressão, que a forma sempre segue à função, é uma lei. “Todas as
coisas na natureza têm uma configuração, isto é, uma forma, uma aparência
externa que nos diz o que as coisas são, que as distinguem umas das outras”
(Louis Sullivan, 1896).
A idéia de Sullivan de que a forma
segue à função foi mal interpretada pelos arquitetos e designers modernos do
século XX como Adolf Loos autor de “Ornamento e Crime”(1908) onde argumenta em
favor da “honestidade da forma”, isto é contra o ornamento exterior, estranho á
forma. O que Sullivan queria dizer é que entre a vida e a forma existe uma
correspondência harmoniosa, a forma também nos diz o que os objetos são e o que
significam, a forma comunica, tem um significado, não é só
funcional.
Os primeiros sinais da crise do Funcionalismo
aparecem em 1960, o boom econômico pós guerra estava chegando
ao seu fim como o boom do Funcionalismo na escola de Ulm e o
movimento Die Gute Form. A Guerra de Vietnam deu passo aos movimentos
estudantis nos Estados Unidos, em “maio de 68” na França, na ‘primavera de
Praga” na Checoslováquia e as revoltas em Berlim e Frankfurt e também no Brasil
e na América Latina. Todos estes movimentos tinham seus fundamentos nas teorias
desenvolvidas na Escola de Frankfurt, entre elas
a de Theodor Adorno que em 1965 inicia sua critica ao funcionalismo na
reconstrução da Europa com a dissertação “Funcionalismo Hoje”.
Os funcionalistas não reconheceram que as
necessidades do dia a dia da população eram complexas porque estavam
configuradas pelos modelos estéticos tradicionais e isto ficou evidente com as
mudanças dos anos 60. Os valores da modernidade começam a ser questionados e
com eles os valores do design moderno.
Todas as mudanças sociais (revolução
feminina, revolução racial 'Black Power', movimento pacífico 'Flower Power',
corrida espacial, Guerra Fria) culturais (consumo massivo,contra-cultura) e
filosóficos (Escola de Frankfurt) tiveram forte influência sobre o design, mas
a maior delas foi a arte. A Arte Pop e a Optical Art rejeitavam o
racionalismo da abstração geométrica por uma arte que procurava a expansão
da consciência e a saturação dos sentidos, recuperando as linhas curvas do Art
Nouveau, o simbolismo e colocaram a atenção na diversidade antes que na
unidade, a saturação antes que a "limpeza", o ornamento floral antes
que a pureza das formas, as tipografias irregulares entes que uma legibilidade
clara do texto. Tudo aquilo que foi sustentado pelo funcionalismo foi desafiado
em uma ola de psicodelismo que por sua vez se tronou em objeto de consumo
massivo.
Peter
Blake e Jann Haworth - The Beatles - Sgt. Pepper’s Lonely Hearts
Club Band (1967)
Stanley Kubric, cenas de “2001, Odisséia no espaço’, 1968
No Brasil o
designer Aloisio Magalhães e Alexandre Wollner marcavam as tendências
nacionais através da Escola Superior de Desenho Industrial ESDI no Rio de
Janeiro, onde lecionaram. Wollner, defendia um design na linha dos valores
funcionalistas que tinha se tornado um estilo internacional ligado ás
tendências abstratas da Arte Concreta dos anos 50 e Magalhães defendia a
recuperação da tradição estética e cultural brasileira com o conceito de "Brasilidade". Esta
dupla tendência é evidente nos trabalhos dos designers gráficos brasileiros
mais destacados destas décadas como Rogério Duarte que desenhou os discos da
Tropicália e Carlos Prósperi. Nos trabalhos de Oswaldo Vanni, Danilo di Preti e
Dercio Bassani para as bienais de arte de São Paulo dos anos 60 é possível
encontrar a influenza do movimento Neoconcreto da arte brasileira que nega a
racionalidade da abstração geométrica com "falhas", "ruído"
visual, linhas curvas e superposições que se antecipam ao que apareceria nos
anos 80 com o movimento Punk no design.
Alexandre Wollner
Aloisio Magalhães
|
Em 1968, o ano das revoltas estudantis em
Paris, Praga, Berlim, Checoslováquia e Frankfurt, o arquiteto Werner Nehls
critica o funcionalismo como fez Adorno em 1965, por ser uma ótica plana e
masculina. Agora, ele disse, o Design deve ser orgânico, colorido, emotivo,
irracional e feminino.
A partir de todo este impulso na década de
1970 os designers iniciaram um movimento que foi conhecido como New Design ou
Anti-Design que propunha usar métodos artísticos, não mais dirigidos por
projetos racionais, desfazendo os limites entre arte e design. As cadeiras de
Stephan Wewerka são um emblema desta mudança anti-funcionalista. Sob o lema de
"a forma segue a diversão" (form follows fun) e "menos é
aborrecido" (less is bore) defendiam um design com maior função simbólica,
com maior carga de humor e ironia, uso de elementos "kitch" (gosto
popular e ordinário) e maior sensualidade. Flores, curvas, cores e saturação de
formas; uso de materiais reciclados assim como tipografias psicodélicas e
objetos não funcionais foram ganhando cada vez mais aceitação entre os jovens
designers que faziam exatamente aquilo que era considerado errado no "Bom
Design" funcionalista.
Na Itália inauguraram galerias dedicadas ao
New Design onde os designers realizavam exposições como artistas. Grupos de
designers e arquitetos propunham novos ambientes para a vida. O grupo
Superstudio elaborava planos para uma arquitetura interplanetária, o Studio
Alchimia e Studio Archizoom propunham ambientes que fossem pensados como os
'teatros da vida" onde os objetos deviam ter a identidade pessoal dos seus
"atores. A forma de um objeto não poderia ser o mesmo para todas as pessoas,
o design devia oferecer variedade formal para a diversidade cultural dos grupos
humanos, como as propostas de Verner Panton dos módulos para construir
"paisagens fantásticas" como "Visiona II".
Memphis, chaleiras Rara Avis, |
O mais famoso deles foi o Grupo Memphis que
teve grande influencia sobre o design dos anos 80 caracterizado pela linha
alegre e arrojada de formas angulares e cores contrastantes. Um dos fundadores
do grupo Memphis foi Ettore Sottsass conhecido pela arquitetura, móveis,
objetos e padrões têxteis com figuras de bactérias (a forma em que se
multiplicam) e cores nunca antes usados na arquitetura ou o design.
Ettore Sottssas do grupo Memphis |
O movimento Punk, que é um movimento inglês
de caráter agressivo, influi no design de moda, design gráfico e na cultura dos
anos 80. Vivienne Westwood, a maior designer inglesa, participou e ajudou a
difundir este movimento. Designers gráficos como Terry Jones que desenhava para
a revista i-D e que se tornou conhecido com o design dos discos do grupo Sex
Pistols e designer de móveis como Ron Arad seguiam esta tendência.
Terry Jones, cartaz e capa de disco para Sex Pistols |
Ron Arad, armario e sofá
Fonte:
BURDEK,
Bernhard E. Diseño: Historia, teoría y práctica del diseño
industrial. Barcelona: Gustavo Gili, 1994.
0 comentários:
Postar um comentário